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Você e eu estamos acostumados a pensar que escolher é um certo processo de preferir uma das alternativas a outras. Via de regra, a escolha é precedida de uma avaliação mais ou menos minuciosa das alternativas de diferentes posicionamentos - éticos, pragmáticos, de valor, etc. Contudo, tal abordagem só é possível quando estamos no paradigma do individualismo. Ao passar para o paradigma de campo, no qual se baseia o modelo de terapia dialógica, o quadro muda irreconhecível. Se sou uma manifestação do campo, surge então a questão: quem faz a escolha? E quem avalia as alternativas? E eles são avaliados? Tentarei responder a essas perguntas. Em primeiro lugar, do ponto de vista da psicoterapia dialógica-fenomenológica, a escolha é um ato mental elementar. É infundado em sua essência. Em outras palavras, não há avaliação preliminar se eu quiser. Aqui gostaria de separar dois processos – tomada de decisão e escolha. Se a primeira pressupõe a necessidade de uma avaliação preliminar das alternativas, a segunda baseia-se apenas na liberdade que lhe é inerente. Em outras palavras, escolho porque escolho. Na minha opinião, só neste momento aparece o lugar da responsabilidade. Ao tomar uma decisão, a responsabilidade é atribuída aos meios pelos quais as alternativas são avaliadas - o conceito psicoterapêutico básico, conselho ou recomendação de outros, por exemplo, um supervisor, ideias sobre certos tipos de personalidades, etc. e totalmente responsável. Em segundo lugar, e isso é o mais incomum, a escolha, assim como a personalidade, pertence ao campo. Em outras palavras, a abordagem descrita nos obriga a nos livrar da ilusão de poder - não somos você e eu que fazemos a escolha, mas a escolha nos faz. De certo modo, podemos dizer que a nossa Vida vive através de nós. Qual é então o nosso papel neste caso? Acredito que seja tudo a mesma coisa – uma declaração de uma escolha ou de outra. Vivemos na medida em que permanecemos sensíveis à forma como nossas vidas mudam. E, novamente, os oponentes aqui talvez tenham uma questão sobre responsabilidade: “A sua abordagem leva a um culto à irresponsabilidade?” De jeito nenhum – acho que é preciso muita coragem para uma pessoa encarar sua vida no campo com as inovações e escolhas que o campo oferece. A maioria de nós tende a viver com os olhos bem fechados, tentando não perceber que a Vida já mudou. Bem, ou olhe com os olhos semicerrados, de vez em quando tirando este ou aquele conceito explicativo do seu peito. Na psicoterapia, estamos mais frequentemente habituados a tomar decisões com base num ou outro conceito, partilhando assim a responsabilidade com ele, em vez de fazer escolhas olhando nos olhos de uma realidade em mudança. Antecipando a conversa sobre a construção de intervenções terapêuticas, direi que a psicoterapia é determinada não pelo conteúdo da intervenção, mas pelo seu motivo. O único motivo eficaz do ponto de vista da psicoterapia fenomenológica dialógica é o ato livre de escolha. É ele quem possui uma propriedade transformadora para o contato terapêutico e, consequentemente, para a vida do cliente e do terapeuta.